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Quando a ciência encontra o amor: contos abrem debate sobre fertilização in vitro
Executivo da indústria farmacêutica, Augusto Maia ficcionaliza histórias reais para tratar sobre questões sociais, afetivas e filosóficas que envolvem a reprodução assistida
Os anos de experiência como executivo da indústria farmacêutica proporcionaram a Augusto Maia um contato mais próximo com histórias de pessoas que recorreram às técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro, para realizarem o sonho de ter um filho. Ele se inspirou nestes relatos para publicar Amor In Vitro, um livro ficcional que traz reflexões sociais, afetivas e filosóficas, sobre as possibilidades que o avanço da ciência no campo da medicina pode viabilizar.
Dividida em sete contos, a obra é uma forma de pensar sobre dilemas, conflitos e emoções relacionados à humanidade. Cada enredo apresenta elementos capazes de levantar discussões sobre a realidade: há o casal lésbico que enfrenta os preconceitos da família para seguir com o sonho de ter um filho; a mulher que não pode recorrer à reprodução assistida por falta de dinheiro; a médica que, mesmo depois de ajudar várias famílias a terem um bebê, pondera sobre a possibilidade de engravidar, entre outras narrativas.
Acho que a mulher é sempre tão cobrada por todos que, involuntariamente, passamos a cobrar demais de nós mesmas. Não ter um homem ao lado ou não ter sido mãe é uma espécie de fracasso, e é difícil saber qual dos dois pesa mais. Uma paciente me disse, uma vez, que era obrigação da mulher cumprir a sua profecia, a maternidade. De um homem, não se cobra nada disso, mas nós precisamos justificar por toda a vida. É um tipo de assédio sutil, disfarçado e gradual, que vai se enraizando na gente. (Amor in vitro, pg. 63)
Com ilustrações produzidas por Alexandra Seraphim e poemas que traduzem os sentimentos das personagens, o livro tem um objetivo principal: apresentar uma visão afetiva e reflexiva sobre a reprodução assistida. Mas os contos também são uma forma de todos os leitores se aprofundarem no assunto. Em várias páginas, Augusto Maia escreve notas informativas para contextualizar o público, com dados sobre infertilidade, taxa de fecundidade, implicações socioeconômicas e mais.
Na obra, o escritor também projeta algumas das histórias no futuro para imaginar os progressos da medicina e as transformações da sociedade. Ao trazer notícias reais acerca dos avanços científicos da fertilização in vitro, ele discute como a humanidade estará em algumas décadas a partir de uma perspectiva ética. Entre os questionamentos, pondera: provavelmente em um futuro próximo, a edição genética e o desenvolvimento de embriões em bolsa artificial serão técnicas disponíveis, mas quais serão as consequências dessas inovações?
“O tema da reprodução assistida provoca uma profunda análise existencial e remete à própria perpetuação da nossa espécie. É um lugar onde inevitavelmente encontramos a essência da nossa humanidade. Cada conto adiciona uma camada de compreensão sobre a reprodução assistida e permite uma leitura por diversas perspectivas de acordo com as questões que mais tocarem o leitor”, afirma o autor.
Ficha técnica
Título: Amor In Vitro
Autor: Augusto Maia
Editora: Poligrafia
ISBN: 978-85-67962-25-2
Páginas: 104
Preço: R$ 56 (físico) | R$ 36 (e-book)
Onde encontrar: Livraria da Travessa
Sobre o autor: Engenheiro de produção e administrador de empresas, Augusto Maia trabalha há mais de 25 anos na indústria farmacêutica. Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é pesquisador de Humanidades, Narrativas e Humanização. Em 2022, publicou o livro “Responsabilidade Humanística - uma proposta para a agenda ESG”, além de ter artigos em revistas acadêmicas. Estreia na literatura de ficção com o livro de contos Amor in Vitro, inspirado em histórias reais sobre reprodução assistida.
Redes sociais: Instagram
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Tudo é possível por amor: autor transforma história real em fábula
Em um romance breve, cheio de simbolismos e reflexões sobre a vida, escritor retrata força feminina e valor da vida por meio de protagonista inspirada na própria esposa
O voo da raposa é uma fábula sobre amor, coragem e perseverança inspirada na história de Fabrizio Michels. Como uma forma de presentear e homenagear a esposa, ele transformou o romance do casal em uma ficção que atravessa temas como maternidade solo, importância de seguir os próprios sonhos, busca por felicidade no cotidiano e senso de pertencimento.
Na narrativa, a protagonista é a Raposa, uma mãe solteira que explora o território onde vive com o filhote, sempre à procura de segurança. Mas, mesmo na tentativa de proteger a família, precisa encarar mistérios e perigos ocultos. Essa realidade tão familiar muda quando ela conhece o Falcão e encontra uma pedra mágica. A partir disso, os dois vão enfrentar dilemas, sentimentos paradoxais e aventuras extraordinárias.
Com este enredo, o autor narra as próprias experiências pessoais desde o momento que conheceu a amada até os dias atuais. A Raposa é a esposa, capaz de tudo para defender o filho e que precisou sustentar sozinha, uma criança em meio aos desafios de uma sociedade machista; o Falcão é o escritor, alguém que, por sempre prezar pela liberdade, nunca firmou raízes em um único lugar, mas mudou de perspectiva ao conhecer a mulher.
— Mãe, você está diferente...
— Diferente como? — indagou ela.
— Ah, não sei! Seus olhos estão com um brilho estranho. Parece que você vai chorar, mas, ao mesmo tempo, sinto que você está tão feliz — tentou explicar.
E ele não poderia estar mais certo em sua observação.
A raposa disfarçou e continuou tranquilizando-o:
— Não é nada, não, estou muito feliz por estar aqui com você, só isso!
Não era só isso, era muito mais, era algo inexplicável e maravilhoso. Depois de tanto tempo, a raposa sentia-se viva, e aquilo mudava tudo.
(O voo da raposa, p. 59)
Com uma linguagem simples em uma história repleta de desafios e enigmas, o leitor acompanha esta saga sobre crescimento pessoal, valor das escolhas e necessidade de enfrentar os momentos difíceis. Além de abordar questões como maternidade, empoderamento e superação, Fabrizio Michels transmite a ideia de que a felicidade não está no futuro, mas no presente, apesar de todas as adversidades: basta se permitir senti-la.
FICHA TÉCNICA
Título: O voo da raposa
Autor: Fabrizio Michels
ISBN: 978-65-25-45738-3
Formato: 14 x 21 cm
Páginas: 172
Preço: R$ 57,90
Onde encontrar: Amazon | Viseu
Sobre o autor: Fabrizio Michels escreve histórias desde a infância. Nascido em 1973, em Uberlândia, Minas Gerais, o escritor viveu a maior parte da vida em Brasília. É formado em Publicidade e Propaganda, mas sempre foi apaixonado por ficção. Por isso, estudou animação e design na Austrália, onde residiu por oito anos, e se aventurou em outros tipos de arte, como criação de jogos, pintura e composição musical. O autor sempre explora a fantasia como uma maneira de transmitir ideias, mensagens e ensinamentos. O Voo da Raposa é seu primeiro livro.
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Paraná Paris
A jornalista paranaense Bebel Ritzmann é empossada Grande Embaixadora da Divina Academia Francesa de Artes, Letras e Cultura
Consolidando sua trajetória literária, autora lança O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, pela editora Aboio | |
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“A poesia de Milena se ri do pecado imputado. E multiplica e divide o pão.” Trecho da orelha de Anna Clara de Vitto “Em O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, o único milagre possível é o ato poético, como afirma Milena em “ofício das mortes”: “Eu estou escrevendo / Isso é um milagre”.” Trecho do prefácio de Priscila Branco “Entre dor e afirmação vital, o livro caminha, assim, em direção a uma espécie de ‘experiência interior’, onde a transgressão só vale enquanto lampejo provisório de resposta, pois o que seria dela se eventualmente se transformasse na fixa e sólida lei?” Trecho do posfácio de Paula Glenadel O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, novo livro de poesia da escritora, tradutora, editora e pesquisadora Milena Martins Moura (@milena.martins.moura) ousa ao trazer o sagrado para o terreno humano do corpo e do desejo femininos. Publicado pela editora Aboio (112 p.), a obra conta com todos os paratextos assinados por poetas mulheres. A orelha é de Anna Clara de Vitto, coordenadora do Clube de Escrita para Mulheres, o prefácio é da editora e crítica literária Priscila Branco e o posfácio é de Paula Glenadel, escritora, tradutora e professora de literatura francesa da UFF.
Com coragem, a poeta aborda religião, erotismo, dessacralização do sagrado e as interdições relacionadas à liberdade feminina, em versos que trabalham a palavra como ferramenta de autonomia. Priscila Branco destaca, já nas primeiras linhas do prefácio, que essa coletânea de poemas é subversiva, já que apresenta uma completa inversão da tradição judaico-cristã, instaurada em nossa sociedade por milênios. E argumenta: “O próprio ato de escrita e, agora, de leitura deste livro é a luta contra o sacrifício. Que a poesia possa sempre dar voz ao cordeiro e aos pecados, e que todo leitor encontre um pedaço desse pão, mesmo que a coberta esteja molhada em dias frios.”
Também nesse sentido, Paula Glenadel apresenta, no posfácio, uma análise sobre a abordagem audaz de Milena nessa obra. Segundo ela, a fome e a sede são imagens que atravessam praticamente todos os poemas do livro. Para a professora, essas cenas se estruturam em duas amplas séries de substâncias, a do pão, do vinho ou da água; e a da carne e do sangue, diante das quais o sujeito se exercita na ocupação de lugares moventes. E essa transubstanciação, em suas palavras, “põe em evidência a inoperância da transferência sacrificial tradicional, incapaz de aplacar essa sede e, sobretudo, essa fome”.
Em O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, as mulheres existem como seres desejantes e é do desejo que o direito à subjetividade surge. Para a autora, trabalhar esse tema sob essa perspectiva era algo inescapável, além de um ato político em desejo de si e de outras: “Eu sou uma mulher que foi criada sob o tacão da culpa e que cansou de enxergar seu desejo como um erro e seu corpo como sujo.”
“Tentei fugir à exigência de que um sujeito neurodivergente só deva falar sobre seu transtorno”
Milena Martins Moura — diagnosticada como autista em nível 1 de suporte já adulta — compara seu processo de escrita e de estilo adotado no novo livro ao do anterior, A Orquestra dos Inocentes Condenados. “O Cordeiro teve uma clara intenção de abandonar o estilo aplicado no livro anterior, que se voltava sobre a solidão pandêmica de uma perspectiva do sujeito autista. Conscientemente ou não, busquei outra temática e outra forma poética, tentando fugir à exigência de que um sujeito neurodivergente só deva falar sobre seu transtorno”, frisa Milena. “Este é um livro que traz uma poética mais densa e obscura, com referências religiosas que remetem à criação católica que recebi e da qual me rebelei eventualmente. Uma poética que dessacraliza o sagrado, o traz para o terreno humano e lhe dá corpo e desejo. E que coloca também o corpo feminino como desejante.”
Sair do isolamento social, para Milena, foi também sair de um tipo de armadilha psíquica que a libertou para abraçar novos temas, imagens e formas. “O livro nasceu lento, mas muito coerente. A escrita deste livro foi justamente o que abriu meus olhos para como o erotismo escrito por mulheres tem se desenhado hoje, o que levou à minha pesquisa de doutorado sobre o tema”, aponta. | |
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O corpo feminino como desejante: a poética de Milena Martins Moura
Milena Martins Moura nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro em 1986. É poeta, editora, tradutora, mestre em Literatura Brasileira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e doutoranda em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Publicou os livros Promessa Vazia (Multifoco, 2011), Os Oráculos dos meus Óculos (Multifoco, 2014) e A Orquestra dos Inocentes Condenados (Primata, 2021), além do plaquete digital de poesias Banquete dos Séculos (edição da autora, 2021). Também é editora da revista cassandra e da Macabéa Edições. Suas principais referências literárias são Leila Miccolis, Viviane Mosé, Caio Fernando Abreu, Adélia Prado, Bruna Mitrano, Manoel de Barros, Sylvia Plath e Hozier (cujas letras, repletas de erotismo, considera poesias musicadas) Como lê muita coisa de variadas temáticas, a poeta considera que O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão não sofreu influência direta de nenhum nome específico, mas esses interesses, desconexos entre si, acabaram fazendo parte do processo de escrita da obra de alguma forma.
Sobre projetos futuros, Milena diz que seu primeiro romance está previsto para 2024.
Confira o poema “evangelho segundo o pecador”:
me quero aberta em cálice e vinho e pão fenda rasgada de ritos
hábito deitado à fogueira onde abrasam as peles recém-expostas
a carne viva pulsa porque viva porque crua porque fera e primeira mulher serpente e desfrute
me quero imersa corpo inteiro no indevido lambendo o caminho desviado com a mesma língua dos cânticos
o sacro e o santo molhados da espera com a sede dos abstêmios e dos crédulos em desgraça
e eu graal sacrílego estou nua e disso não me envergonho
Adquira O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão via site da editora Aboio: https://aboio.com.br/produto/ |
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Um autor, cinco quadrinistas: HQ une diferentes traços e narrativas para pensar sobre arte e sociedade
Após 40 anos, o desenhista e roteirista Hermes Ursini retoma o contato com o universo dos quadrinhos por meio de "Bando", um livro experimental sobre o trabalho dos artistas
O desenhista, roteirista e designer gráfico Hermes Ursini explora os limites entre ficção e realidade em Bando, livro que marca o retorno do ilustrador ao mundo das histórias em quadrinhos. Nesta HQ, ele utiliza diferentes traços, técnicas e gêneros literários para refletir sobre as implicações do fazer artístico em uma sociedade capitalista, o papel destes profissionais na contemporaneidade e a importância de pensar sobre arte em um mundo cada vez mais automatizado.
Para isso, ele conta a trajetória do roteirista Onetti, que, ao retornar para o Brasil, descobre uma gaveta repleta de obras de autores anônimos. Quando percebe a importância destes trabalhos, envolve-se em uma fabulação pessoal em que situações e figuras históricas da HQ europeia, como Dionnet e Gir, o inspiram a procurar o Oriente em São Paulo, mais especificamente o bairro da Liberdade. Na região, encontra-se com o editor Shiro Tahashi. Juntos, os dois descobrem que precisam criar um mundo de ficção para desenvolver um único projeto editorial.
Assim, os leitores são apresentados a enredos e biografias dos artistas: Felipe Layer, Darta, Bob Bear e Sherman. Todos eles são personas distintas dentro de Onetti, um personagem fictício inspirado no próprio Hermes Ursini. Com esta liberdade para criar narrativas e usar recursos variados, o autor envereda não apenas pelas complexidades do processo artístico, mas por temas que se conectam à realidade de todos quando desenha, por exemplo, personagens de diferentes classes sociais em relações conflituosas com o trabalho.
Só muito tempo depois chega a hora dos trabalhadores intelectuais. Esses desabam lentamente. Uma barriga aqui, um diabetes ali, uma gastrite, uma úlcera, e assim vão saindo de cena devagar. E o que farão com o enorme hiato de tempo entre seu fim tardio e o precoce acaso dos burros de carga? Vão escrever e desenhar, atormentados por terem sido premiados pelos deuses com doses extras disso que chamamos de existência. Estarão solitários, ocupados em dedilhar teclados e rememorar trechos de suas horas. (Bando, pg. 116 a 118)
Entre as páginas, o escritor narra histórias diversas: há o homem que enfrenta o luto de perder um amigo próximo; o jovem que sonha em ser artista na tentativa de criar um outro mundo; o trabalhador intelectual submisso ao sistema capitalista que descobre ser parte do proletariado; o pintor que se revolta contra o mercado de galerias, dentre outras. A partir deste entrelaçado de vozes, personagens e estilos, Hermes Ursini mostra como, às vezes, a arte é o único meio que as pessoas têm para sobreviver. Bando foi realizado com apoio do ProAC, do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas.
FICHA TÉCNICA
Título: Bando
Autor: Hermes Ursini
Editora: Troia
ISBN: 9786588436325
Páginas: 128 páginas
Preço: R$ 74 (físico) | R$ 22,40 (e-book)
Onde comprar: Amazon
Sobre o autor: Hermes Ursini é desenhista, roteirista, pintor, diretor de arte e designer gráfico com décadas de experiência no mercado da propaganda, em São Paulo. Ele começou a desenhar quando era criança, no asfalto da cidade de Jaú. Aos 14 anos, depois de se mudar para Sorocaba, passou a trabalhar em jornal e rádio. Já na capital paulista, enveredou pela ilustração para revistas e jornais, firmando-se como um artista voltado para a comunicação. Bando marca seu retorno ao universo das HQs desde os anos 1980.
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Celebremos os livros e os autores brasileiros
*Por Aliel Paione
A literatura, sem dúvida, é uma das mais significativas manifestações culturais de um povo. Um grande escritor, com sua sensibilidade e talento, consegue captar as nuances mais sutis de uma sociedade e contextualizá-la num tempo e local, exercendo uma crítica perspicaz sobre o ambiente em que vive. Neste domingo (29), ao festejarmos o Dia Nacional do Livro, celebremos, também, seus criadores.
Alguém descreveria com mais sensibilidade a tragédia do homem nordestino que Graciliano Ramos, em seu belíssimo romance, Vidas Secas? Em que expõe a saga de pessoas vivendo e procurando sobreviver naquele ambiente inóspito, seco e paupérrimo? Ou melhor descreveria o ambiente terrível nas prisões durante o Estado Novo, como ele o fez em outro memorável romance, Memórias do Cárcere?
Embora circunstancialmente o destaque seja Graciliano Ramos, os romancistas nordestinos do período regionalista também penetraram fundo nas agruras da região, como José Lins do Rego.
Indagação similar é relativa a Jorge Amado, ao narrar a sociedade cacaueira do recôncavo baiano. Em seus romances, pulsam a sensualidade impregnada na culinária e no gingado de mulatas exuberantes. Em suas páginas abundam os conflitos e a violência entre os coronéis nas lutas pela posse da terra. Jorge Amado mergulhou na cultura baiana e nos deixou um legado riquíssimo.
Mais ao sul, repetimos o questionamento: alguém se aprofundou com mais perspicácia e talento na sociedade carioca e no ambiente urbano do Rio de Janeiro que Machado de Assis? Seus romances realistas, repletos de sutilezas psicológicas, transcorrem pela rua do Ouvidor, pelo passeio público, Lapa, praia do Flamengo... pelo centro do velho Rio da segunda metade do século XIX. Que leitor mediano desconhece Dom Casmurro ou Memórias Póstumas de Brás Cubas?
Fiquemos nesses exemplos da capacidade narrativa e da riqueza da literatura brasileira em influenciar e tornar conhecida épocas vividas. Porém, alhures, o que dizer sobre Balzac e a sociedade parisiense do século XVIII? Sobre Eça de Queiróz e seu provinciano Portugal? De Proust, De Cervantes e de seu imortal Dom Quixote? De Tolstói e de sua monumental Guerra e Paz? E de tantos outros escritores célebres? Deve-se ressaltar que grandes obras literárias foram adaptadas às artes cênicas, e a elas devemos filmes e peças memoráveis. Cabe, portanto, à literatura esse outro riquíssimo legado.
E o que dizer de outros gêneros literários, como a poesia? Pois ela tem, no Brasil, figuras expressivas: João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Vinícius de Morais... poetas imortais de versos instigantes. Como os romances filmados, muitos poemas foram belamente musicados.
Enfim, a literatura é semelhante aos velhos faróis dos navegantes, que lançam suas luzes em todas as direções e iluminam as noites escuras de uma época, imortalizando-as no tempo.
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*Aliel Paione é escritor, autor do livro Sol e Solidão em Copacabana, que faz parte da Trilogia do Sol.
Vidas complexas, conflituosas e múltiplas: pessoas comuns protagonizam livro de contos.
Doutor em Literatura e Estudos Culturais, Gustavo Tadeu Alkmim estreia com histórias que evocam reflexões sobre as relações interpessoais e o mundo pós-moderno
Os 23 contos de O futuro te espera, escritos por Gustavo Tadeu Alkmim, recorrem a diferentes vozes para evidenciar as complexidades das relações humanas e as múltiplas maneiras de existir no mundo em contraposição a uma sociedade efêmera. Doutor em Literatura e Estudos Culturais, o autor narra momentos cotidianos para tratar sobre as realidades política, social, econômica e psicológica.
Em uma das histórias, um homem encara o próprio corpo morto no caixão, enquanto faz uma retrospectiva de sua trajetória, repleta de conflitos no trabalho e nos relacionamentos. Em outro enredo, uma família, acostumada a nunca chorar e a guardar dentro de si todas as angústias, precisa se separar para buscar uma melhor qualidade de vida.
Ao explorar o extraordinário nas experiências do dia a dia, o escritor apresenta situações que retratam as inquietações humanas sobre a morte, os problemas emocionais da sociedade atual e os medos inerentes da existência. Para isso, ele utiliza personagens profundos e múltiplos: há uma mulher “de bem” com aversão a pessoas em situação de rua; um adulto, prestes a enterrar o pai, que não se recorda da infância; e um trabalhador que encontra conforto em uma mulher misteriosa.
Diz-se, da vida, que vivemos a traçar planos. Sobre o amanhã, o fim do mês, o ano que vem. Sobre o hoje à noite. A previsibilidade do futuro. Até que, sem licença, o imponderável acontece. E os planos viram incertezas; o previsível torna-se frustração. Assim foi com Roberto. Sol a pino, caminhada matinal, passadas espartanas, pensamentos nos compromissos — os planos — do dia. Coração acelerado, pontada no peito, queda brusca. Estendido na pista. Socorro imediato. (O futuro te espera, pg. 46)
Dividido em duas partes, “O Sentido Trágico da Existência” e “E La Nave Va”, O futuro te espera propõe uma linguagem simples e coloquial para promover nos leitores um maior senso de familiaridade com os textos ficcionais. O autor comenta: “Meu livro tenta manter a ideia de uma literatura que pretende convidar o leitor a pensar sobre o mundo que o cerca, sem incorrer em textos de narrativas longas e cansativas, sem cair em uma linguagem panfletária”.
Ficha técnica
Título: O futuro te espera
Autor: Gustavo Tadeu Alkmim
Editora: 7 Letras
ISBN: 978-65-5905-210-3
Páginas: 184
Preço: R$ 59
Onde encontrar: Amazon | 7 Letras
Sobre o autor: Gustavo Tadeu Alkmim é desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, no Rio de Janeiro, e membro da Associação dos Juízes pela Democracia (AJD). Mestre e doutor em Literatura e Estudos Culturais pelo Departamento de Letras da PUC-Rio, faz a estreia na literatura com o livro “O futuro te espera”. No meio literário, também aluno da Oficina Literária Ivan Proença, a mais antiga do país.
Vida Becker: de menina insegura à maior guerreira da História
A protagonista da saga de Maurício Gomyde vai aprender com grandes personalidades históricas e combater as mentes mais cruéis da humanidade
E se você fosse escolhido para liderar os grandes gênios da humanidade na maior guerra da história do universo? Vida Becker jamais poderia imaginar que caberia a ela essa missão. Em Vida Becker e a máquina de contar histórias, primeiro livro da trilogia de Maurício Gomyde, o leitor acompanhará a passagem da jovem paulistana para o Paramundo, o destino dos mais de 100 bilhões de humanos que já morreram na Terra.
Essa população está dividida entre os Amáveis, que re-vivem no Território Fraterno, e os Temíveis, relegados a re-viverem para sempre nos confins do Território Ermo. A personagem chega ao Paramundo por meio de um portal em forma de livro e se depara com uma guerra iminente, após milhares de ciclos em que a paz reinou. Na dicotomia representada pelo bem e o mal, a jovem irá aprender, crescer e aos poucos ganhará o respeito dos Amáveis para se tornar a grande líder.
— Mas ninguém pode ter sido só bom ou só mau.
— Você está coberta de razão,Vida. Todo amável teve,
na Terra, um quê de temível. Assim como todo temível, claro, teve lampejos amáveis.
Porém, o Paramundo é maniqueísta. Ao chegarem aqui, os seres humanos amáveis tornam-se
integralmente sua melhor versão amável e os seres humanos temíveis tornam-se a sua mais cruel versão temível.
E assim ficarão para sempre.
(Vida Becker e a máquina de contar histórias, pg. 78)
Nesta jornada épica, a protagonista vai interagir com grandes personalidades da história. Enquanto luta contra os exércitos de Napoleão Bonaparte, Mussolini e Gengis Khan, Vida tem ao lado figuras como Joana d’Arc, Dandara dos Palmares e Marielle Franco. Mulheres fortes que reforçam o componente feminista da obra, inspirada essencialmente na filha de 14 anos do autor, também músico e roteirista de cinema.
“De tanto escutar as dúvidas e angústias da minha filha sobre o mundo, o futuro, pertencimento e identidade, decidi criar a jornada desta personagem”, comenta o também autor de Surpreendente!”, finalista ao Jabuti, que aposta também na importância da cultura e do conhecimento “para que Vida aprenda e resolva seus maiores problemas com sabedoria.”
Dono de uma escrita que se distingue pela sensibilidade, neste coming of age Maurício Gomyde agora leva a mensagem aos jovens que passam pelas dúvidas próprias da idade. Trata de medo, aceitação e futuro. “Esta é uma aventura que celebra o lado bom do ser humano como um "superpoder", e não como uma fraqueza a ser remediada e endurecida”, comenta em prefácio o também finalista ao Jabuti, Felipe Castilho, autor de Serpentário.
FICHA TÉCNICA
Título: Vida Becker e a máquina de contar histórias
Autora: Maurício Gomyde
Editora: Qualis
ISBN: 978-85-7027-095-5
Dimensões: 23 x 16cm
Páginas: 348
Preço: R$ 50,00 (físico), R$ 16,90 (e-book)
Onde comprar: Qualis Editora, Amazon
Sobre o autor: Maurício Gomyde é músico, roteirista de cinema e autor de oito livros publicados em seis países. Foi finalista do prêmio Jabuti 2016 com o livro Surpreendente!, título publicado também em Portugal, Espanha, Itália e Lituânia. Vida Becker e a máquina de contar histórias é o quarto lançamento pela Qualis Editora.
O retrato de um Brasil antagônico.
Romancista Aroldo Veiga aborda em novo livro os dramas e contradições de dois homens que disputam o amor de uma mulher
Antagônicos, novo romance do escritor Aroldo Veiga, é o retrato de um Brasil desigual. Em nossa pirâmide social, os dois protagonistas provieram de camadas bem distintas. Cristiano é filho de um rico empresário da construção civil. Cainã foi abandonado pela mãe e vive com o pai alcoólatra em um cortiço.
Não fosse por Mariana, a bela e cativante sobrinha do bispo, seus caminhos jamais teriam se cruzado. O interesse pela moça desencadeou uma disputa ferrenha entre os dois rapazes, repleta de perfídias e reviravoltas. Já no prólogo, o leitor é apresentado a Cristiano e à sua vida de luxo em São Paulo. Após um evento trágico, o rapazinho se vê obrigado a mudar-se para casa de uma tia no Nordeste.
A história então retrocede três anos e passa a narrar o cotidiano de Cainã, que após romper relações com o pai, é acolhido por uma senhora e também se vê à beira de um precipício de mudanças, com novo colégio e amigos. O enredo ganha novos contornos quando Mariana surge entre eles, dando início a uma trama que começa na década de 1980 e se prolonga até início dos anos 2000.
Do fundo da sala, Cainã contemplou a chegada de Mariana,
os olhos estreitados como os de um felino.
Cristiano percebeu o seu interesse na moça e sentiu uma pontada de ciúme.
Intuía que agora teria um concorrente à altura.
(Antagônicos, p. 31)
Na eloquente narrativa do escritor sergipano, o leitor irá se deparar com diálogos bem elaborados e uma rica sintaxe. A sonoridade textual é outra característica marcante na obra, temperada com técnicas de paralelismos, digressões, antecipações e metáforas.
“Os trechos mais intimistas, além de uma simples interpretação dos personagens, permitem ao leitor um mergulho profundo na essência mais íntima do ser humano”, comenta Aroldo Veiga que, sem abdicar do compromisso com a estética e a verossimilhança, aborda temas relevantes em uma história que emociona e facilmente conduz o leitor até as últimas páginas.
Publicado no Brasil pela editora Ases da Literatura, Antagônicos também chega aos leitores de Portugal, Japão, Estados Unidos, Canadá, Polônia, Suécia, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha e Austrália.
FICHA TÉCNICA
Título: Antagônicos
Autor: Aroldo Veiga
Editora: Ases da Literatura
ISBN: 978-65-5428-165-2
Dimensões:14 x 1,5 x 21 cm
Páginas: 264
Preço: R$ 64,90
Onde comprar: Amazon
Sobre o autor: Aroldo Veiga nasceu em 1973 em Aracaju, capital do menor estado brasileiro. É graduado na área de licenciatura e possui especialização em Língua, Linguagem e Literatura. Ainda criança, teve os primeiros contatos com os livros, e apesar da paixão pelas letras, só publicou o seu primeiro romance em 2021. É casado e tem uma filha. Antagônicos é a sua segunda produção literária.
"As letras de Alice": aventura inclusiva pelo abecedário
Escrito em letra ampliada, braile e Libras, lançamento infantil dialoga com crianças sobre pluralidade social e união familiar
“A” de Alice, de afeto e também de alfabetização. Em uma brincadeira com as letras unida ao universo lúdico, o escritor Elias Sperandio espera deixar o processo de aprendizagem mais divertido e acessível, para crianças com e sem deficiência visual ou auditiva. Inclusivo, o lançamento infantil As letras de Alice imprime o abecedário em três formatos: com fonte ampliada, em braile e Libras (Língua Brasileira de Sinais) – um QR Code direciona para a história contada em sinais.
No enredo, a jovem Alice e o irmão Kauê se divertem na casa da avó Dora, juntos de tios em um café da tarde com toda a família. Em meio às aventuras de pirata e sapateado no chão da sala, a protagonista leva mensagens sobre representatividade e valorização da cultura negra, ao apresentar nomes importantes da história brasileira, como a poetisa Carolina Maria de Jesus e o jornalista abolicionista Luiz Gama.
Ela escreve na
Folha colorida
Grandes
Histórias de heróis
(As letras de Alice, p. 7)
Especialista em produção, adaptação e transcrição de livros em braile, Elias Sperandio traz uma alternativa aos materiais paradidáticos, ao proporcionar uma experiência literária com histórias, personagens e ritmo na narração. “Os leitores em fase de alfabetização precisam do lado imaginativo nesse processo de aprendizagem. Por isso, crianças com deficiências visuais ou auditivas precisam desfrutar de uma literatura inclusiva, pensada e feita para que suas limitações não as impeçam de adquirir a linguagem”, explica.
Publicado com recursos do Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, o livro terá 700 exemplares distribuídos gratuitamente em escolas públicas. Para receber a obra nas instituições de ensino, educadores devem preencher um cadastro em formulário on-line.
FICHA TÉCNICA
Título: As letras de Alice
Autor: Elias Sperandio
Editora: Blitt
ISBN: 978-65-980012-0-9
Páginas: 20
Formato: 20 cm x 25 cm
Preço: R$ 38,00
Onde comprar: Editora Blitt
Sobre o autor: Elias Sperandio é pós-graduado em Formação de Escritores pela ESDC, bacharel em Letras e técnico em Artes Gráficas. Fundador da Studio Braille, é especialista em produção, adaptação e transcrição de materiais, livros didáticos e literários em braile e em fonte ampliada. Participou de inúmeros projetos de publicação na Fundação Dorina Nowill para Cegos, inclusive do programa “Leia para uma criança”, promovido pelo Itaú Social.
Sobre a ilustradora: Jéssica Góes é carioca e desde criança já rabiscava tudo: paredes, guardanapos e livros de matemática. Bacharel e Licenciada em Artes Visuais pela UERJ, utiliza a aquarela como principal técnica para suas ilustrações. Mulher negra, gosta de ilustrar a pluralidade; suas personagens costumam ser mulheres, pretas e indígenas.
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Obra une técnicas e conselhos indispensáveis para escritores
Especialista Lilian Cardoso reúne perspectivas sobre o mercado literário brasileiro, dicas de marketing e workbook para autores
Onde encontrar: Amazon“Por que alguém iria querer ler este livro?” Essa pergunta provavelmente passa pela cabeça de todo escritor ou aspirante. Todo livro nasce de uma ideia e percorre muitas etapas até chegar às mãos do leitor, mas poucos sabem sobre esse processo. Em O livro secreto do escritor, a autora, jornalista e especialista em marketing literário Lilian Cardoso oferece aos profissionais da área importantes ferramentas para vencer desafios com estratégia e conquistar espaço concreto em um mercado cada vez mais competitivo.
A publicação do próprio livro, pela Citadel Grupo Editorial, é o desejo de muitos autores, que por vezes não sabem por onde começar e, sem auxílio técnico ideal, caem em empreitadas que podem atrasar e complicar os caminhos para a conclusão de um projeto literário. Capas mal executadas, falhas na revisão, atrasos de prazos, infelizmente, são problemas comuns para quem inicia a carreira independente. Em cada capítulo, Lilian apresenta técnicas, exercícios e métodos capazes de orientar os autores em todas as etapas.
Antes de começar a desvendar os segredos de uma obra best-seller, o leitor-escritor descobrirá um pouco da história da autora, que trabalha há quinze anos no mercado literário. Ao conhecer a trajetória da fundadora da agência que mais divulga livros no Brasil, a LC - Agência de Comunicação, o escritor-leitor compreenderá aspectos essenciais para a própria carreira, como iniciar o marketing antes mesmo da publicação do livro.
De dicas práticas e explicações sobre as etapas da produção aos alertas sobre plágio, direitos autorais e presença virtual – em plataformas como Amazon KDP –, a obra entrega ao escritor um arcabouço sintonizado com as mudanças no mundo editorial e nas tecnologias.
Todos nós temos algo para contar a partir das nossas experiências que pode tocar e inspirar outras pessoas.
Não importa o tamanho ou a natureza da sua mensagem, ela merece ser ouvida.
As palavras têm o poder de criar conexões, despertar emoções e fazer a diferença na vida de alguém.
(O livro secreto do escritor, p. 69)Workbook, uma experiência
O nome do livro não é uma referência a um suposto conteúdo secreto nele contido, mas à parte destinada aos comentários do autor, como um diário. A cada capítulo, ele é convidado fazer anotações sobre objetivos, prazos e insights, a começar pelo cronograma inicial do projeto, bem como expectativas e inspirações, além de exercícios práticos sobre os assuntos abordados.
Com interessantes insights sobre o mercado literário, o comportamento dos leitores e sobre o próprio ofício da escrita, O livro secreto do escritor prepara o autor para novos voos. Não importa o gênero literário escolhido, nem se é iniciante ou experiente, seguro de si, sonhador ou tímido: as lições evidenciadas por Lilian Cardoso permitirão ao autor testemunhar por si mesmo o poder das próprias palavras.
FICHA TÉCNICA
Título: O livro secreto do escritor: da página em branco ao best-seller
Autor: Lilian Cardoso
Editora: Citadel Grupo Editorial
ISBN: 978-65-5047-253-5
Formato: 15,2 x 22,9 cm
Páginas: 304
Preço: R$ 59,90 (físico); R$ 34,90 (e-book)
Um livro sem estigmas para conversar com jovens sobre saúde mental
Com perspectiva psicanalítica e narrativa leve, autora discute depressão, ansiedade, assédio sexual e suporte familiar por meio das experiências compartilhadas entre duas amigas de infância
Juliana Dutra, escritora, jornalista, atriz e estudante de psicanálise, aborda, no livro de ficção Amiga Conselheira, a relação entre duas amigas de infância que aparentemente compartilham todas as experiências juntas. Mas, quando Giulia tenta suicídio, Maria Vitória vai ao hospital visitá-la e busca entender os pensamentos da menina, que sempre estava disposta a ajudar, mas nunca havia falado sobre os próprios sentimentos.
A partir disso, o enredo se desenvolve entre passado e presente, com um olhar reflexivo para investigar as dinâmicas das relações das protagonistas. A escritora utiliza esta perspectiva analítica para tratar sobre as histórias pessoais das personagens, bem como os traumas, as experiências de vida e os problemas delas.
Com um ritmo lento, tato para dialogar sobre temas delicados e leveza na narrativa, o livro destrincha situações dolorosas às quais Giulia foi submetida. Bullying, abuso sexual, difícil convivência com uma família disfuncional composta por um pai alcoólatra e uma mãe conservadora, além da aceitação da própria sexualidade, são algumas das questões abordadas.
Giu nunca me contou sobre nenhum desses comentários, mas eles eram apenas uma fração da violência que ela sofria desde que colocou os pés em um ambiente escolar. Eu era boba, e achava que ela era muito forte por aguentar todos de cabeça erguida, só que, talvez, ela fosse mais machucada por eles do que eu imaginava. (Amiga Conselheira, pg. 68)
Juliana Dutra transita por todas as suas expertises profissionais para conversar com o público jovem-adulto de forma fluída e dinâmica. Os personagens foram inspirados na dramaticidade teatral, as reflexões são embasadas na psicanálise, e o texto conciso é reflexo da escrita jornalística. “Escrevi o livro que eu gostaria de ter lido aos 17 anos, para acolher pessoas que se sentem sozinhas no mundo”, afirma a escritora.
Ficha técnica
Livro: Amiga Conselheira
Autor: Juliana Dutra
ISBN: 978-65-00-61274-5
Páginas: 172
Preço: R$ 50,00
Onde encontrar: Amazon
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Livro, um sobrevivente
*Aroldo Veiga
Doze de outubro é celebrado o Dia Nacional da Leitura, instituído por lei em 2009. Mas você sabe o que mudou no mercado editorial e o que temos a comemorar? Você conhece a opinião de especialistas acerca do futuro deste hábito milenar? Sabe quais mudanças já estão em curso?
O fato é que o universo dos livros é permeado de mitos e verdades. Naturalmente você já ouviu falar nos benefícios da leitura, que desenvolve o senso crítico, a cognição, o vocabulário... Tudo isso é verdade, a ciência atesta. Contudo, será que também é verdade que o brasileiro lê pouco, que hoje em dia ninguém mais se interessa por livros?
Desde que o homem inventou a escrita, há cerca de 4 mil anos, as plataformas de leitura têm se aprimorado de acordo com cada época. Primeiro vieram os papiros, depois os pergaminhos, o papel, a imprensa... Recentemente a literatura entrou na era digital. O hábito então começou a migrar do papel para as telas, e o motivo é simples: o e-book é ecológico, mais leve, mais barato... Durante a pandemia, as vendas neste segmento cresceram 50%.
Além disso, o livro digital é mais fácil de comprar e o acesso é imediato. O usuário ainda pode armazenar centenas de obras em um único dispositivo, ajustar o tamanho e o tipo da fonte, o nível de brilho e até cor da tela.
Diante de tantas vantagens, eis a pergunta que não quer calar: será que tudo isso significa o fim do livro impresso? Provavelmente não! O livro já sobreviveu a guerras, ditadores e fogueiras santas. Certamente se adaptará às novas tendências de mercado e continuará vivo.
Até porque tem o aval da ciência. Quando se trata de educação infantil, pesquisas afirmam que estudar no papel aumenta a concentração do aluno. Na Suécia, por exemplo – onde o sistema educacional é um dos melhores do mundo –, o livro digital já vinha sendo adotado há quinze anos, em paralelo com o livro impresso. Recentemente, amparado por estudos científicos, o país decidiu voltar a usar apenas livros de papel.
O Brasil, apesar de tantos números negativos, tem muito a comemorar no que diz respeito ao consumo de livros. O país figura entre os dez maiores mercados do planeta e, apesar de tímido, o aumento nas vendas tem se mantido em constante ascensão.
O fato é que é possível conviver com as duas tecnologias, aproveitar o que há de melhor em cada uma. O mais importante é não deixar a chama da leitura se apagar. Que tal então celebrarmos o Dia Nacional da Leitura com um bom livro brasileiro?
*Aroldo Veiga é especialista em Língua, Linguagem e Literatura e autor dos romances Antagônicos (2023)e Trono de Cangalha (2021).
Conversas de bar: autor atravessa contradições sociais a partir de cenário tipicamente brasileiro em livro
No livro "Entre Muitas Vozes", Marco Antonio Martire retrata o crescimento do fascismo, critica os costumes da sociedade e evidencia as dores de uma jovem para romper padrões e viver de arte
Domênica, uma jovem aspirante a cantora de samba, e Vianna, um jornalista fascista com dependência em álcool, se encontram regularmente na mesa de uma choperia. Eles não são amantes, tampouco podem ser considerados amigos próximos, mas as conversas e as reflexões destes personagens com características antagônicas constituem o livro Entre Muitas Vozes, do escritor Marco Antonio Martire.
Na obra, os dois protagonistas narram suas respectivas trajetórias. Domênica sonha em se tornar artista, mas está em um conflito interno para atender às expectativas da família e seguir a carreira de jornalista. Na tentativa de se opor aos desejos dos pais, descobre traições que abalam a ideia do matrimônio perfeito.
A mãe já não era mais a dona de suas confissões, os pequenos erros, as tolas fraquezas dos seus afetos foram identificadas, qual era o problema com a música? Domênica se afastou e mergulhava em um redemoinho de opiniões novas, sugeridas pelo novo mundo uma atrás da outra, contraditórias e cansativas. Começou a cansar, e o cansaço também pôs na conta da mãe. (Entre Muitas Vozes, pg. 19)
Por outro lado, Vianna sente-se solitário depois que o alcoolismo destruiu suas relações. Com perda parcial da voz devido ao uso contínuo de cigarros, ele encontra na jovem uma possibilidade de ser escutado e de compartilhar suas visões acerca do mundo.
Marco Antonio Martire concentra o enredo, principalmente, em um bar na capital do Rio de Janeiro com o objetivo de mostrar as várias realidades que se conectam no cotidiano. Ele comenta: “o livro foi pensado a partir do burburinho de um bar. São muitas vozes falando ao mesmo tempo. Tem o garçom, o bêbado, o estudante, a professora... A obra trata sobre uma voz que quer se sobressair em um universo de vozes que tentam falar coisas diferentes ao mesmo tempo”.
Com uma narrativa que equilibra diálogos e pensamentos internos dos protagonistas, o autor atravessa contradições da sociedade brasileira. Além de refletir o crescimento do fascismo no contexto macropolítico brasileiro, também explicita as hipocrisias presentes nas relações interpessoais.
Ficha Técnica
Título: Entre Muitas Vozes
Autor: Marco Antonio Martire
ASIN: B0CDNPCC6P
Páginas: 242
Preço: R$ 15,90 (e-book)
Onde comprar: Amazon
Sobre o autor: O carioca Marco Antonio Martire é servidor público, formado em Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda, e pós-graduado em Língua Portuguesa. É autor de "Capoeira Angola mandou chamar”, que recebeu o prêmio Lucilo Varejão na categoria “Melhor Livro Inédito de Ficção”. Também possui textos em coletâneas e antologias, como “O Gato na Árvore”, “Poemas Cariocas”, “Clube da Leitura – Vol. III” e “Escritor Profissional – Vol. 1”. Suas publicações mais recentes são os romances “Decidida” e “Entre Muitas Vozes”.
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