quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Literatura Atual

 Ser mãe negra é um ato de resistência’



Maternidade tem cor?” reúne relatos
impactantes em livro de cientista social


A discriminação racial está em todo lugar e a maternidade não é uma exceção. Resultado da sua pesquisa antropológica de mestrado, a cientista social e professora Luara Paula Vieira Baia lança o livro “Maternidade tem cor?”, pela editora Appris. O trabalho apresenta um olhar singular para a maternidade da mulher negra, um tema pouco explorado nos estudos de gênero no Brasil, com questionamentos sobre a visão da sociedade e também depoimentos de seis mulheres que vivem essa experiência.


Um dos destaque do livro é a preocupação das mães com a criação dos filhos no sentido de blindá-los do racismo e seus efeitos, bem como a garantia de poder assegurar uma vida segura a eles, tanto material quanto emocional. “Ser mãe negra passa especialmente por reflexões sobre isso e pela tentativa de ‘evitar’ essas situações. A apreensão com o racismo que os filhos possivelmente sofrerão foi algo unânime nos depoimentos. Todas elas, em alguma medida, desde que souberam que seriam mães tiveram essa preocupação como questão”, conta Luara, que é mestra em Ciências Sociais e graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Um mito racista muito propagado no Brasil é que as mulheres negras são mais fortes, aguentam mais a dor e  que são boas parideiras. Isso reflete no atendimento de mulheres negras grávidas no sistema de saúde. Segundo pesquisa da Fiocruz, mulheres negras possuem maior risco de ter um pré-natal inadequado, realizando menos consultas do que o indicado pelo Ministério da Saúde; têm maior peregrinação entre maternidades, buscando mais de um hospital no momento de internação para o parto; e são as que menos recebem anestesia e menos atenção médica no momento do parto, o que também é uma violência.

Questionada sobre como chegou a este tema, a autora explica: “O universo da maternidade sempre me despertou curiosidade, antes como filha, depois como pesquisadora. Sempre tive curiosidade porque observo e, especialmente, comparo muito minha relação com a minha mãe e as demais relações, ao passo que fui me aproximando da academia fui desmistificando um pouco esse papel social e foi surgindo o interesse no estudo sobre isso”, explica a autora, de 30 anos. Ela acredita que “Maternidade tem cor?” também traz reflexões mais concretas e menos romantizadas sobre o desafio que é a maternidade, a criação de filhos e como o marcador racial traz questões específicas para esse desafio que é a maternidade, que assim como ela, ainda não tem filhos.

O conteúdo do livro é bastante singular a respeito das implicações do marcador racial na experiência materna e a leitura torna-se uma interessante oportunidade para todos que se interessam pelas questões de gênero e raça no Brasil.

Link para compra: https://www.editoraappris.com.br/produto/5398-maternidade-tem-cor-narrativas-de-mulheres-negras-sobre-maternidade

Sobre a autora: Mestra e graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Luara Paula Vieira Baia é professora de Sociologia na Rede Básica de Ensino e concentra estudos nas áreas de raça, gênero e maternidade.

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