Aos 13 anos, Mabel Radel era uma garota emo em São Paulo, pintando os olhos de preto e ouvindo My Chemical Romance no volume máximo — como tantos adolescentes no início dos anos 2000. Hoje, aos 27, ela é uma profissional respeitada na cena musical internacional, com experiência na produção de centenas de shows, incluindo grandes nomes como Slipknot, Simple Plan, Avril Lavigne e Demi Lovato. Ela se define como uma “fã profissional” — e não é exagero.
“Eu sempre fui muito envolvida na cena do metal e do emo. Quando decidi trabalhar com produção de eventos, foi porque minha maior paixão era frequentar shows e estar perto das bandas que eu escutava”, diz. “Quis garantir que outros fãs tivessem experiências tão boas quanto as que eu sempre busquei.”
Formada em Comunicação e Marketing pela FAAP, Mabel iniciou sua trajetória no setor como gerente de marketing digital do Espaço Unimed, uma das maiores casas de show da América Latina, onde coordenou a divulgação de mais de 500 eventos. Também colaborou com grandes palcos como o Villa Country e o Audio, desenvolvendo campanhas que uniam conteúdo, estratégia e experiência de público.
“Minha missão nesses eventos era sobre encher a casa e garantir uma boa experiência para o público”, conta.
Foi em 2019, ao viajar para Los Angeles exclusivamente para assistir ao show de reunião do My Chemical Romance — após sete anos de hiato da banda — ela teve um estalo: “Naquele momento, decidi que queria construir uma carreira internacional em torno do estilo musical que sou fã.”
Em 2024, Mabel se mudou para Los Angeles, onde se especializou em Music Business no Musicians Institute Hollywood — com bolsa de mérito e honras — e concluiu um curso de General Business com concentração em Marketing pela UCLA Extension. Logo depois, passou a trabalhar com a 5B Artists Management, produzindo turnês de bandas como Slipknot, Trivium, Corey Taylor, Knotfest USA e Amon Amarth. Ela também liderou o rebranding da ONG Rock Against Racism, conectando música e ativismo em campanhas digitais que alcançaram crescimento orgânico expressivo.
Hoje, Mabel acumula experiência produzindo alguns dos eventos mais relevantes da cena emo nos Estados Unidos, incluindo a edição de de 10 anos da Emo Nite, uma das maiores festas do segmento. Em breve, seu nome estará também na produção do Vans Warped Tour 2025, em parceria com a Gritty in Pink. “Estou vivendo meu sonho de adolescente”, revela.
Ela acredita que sua força está na interseção entre produção, estratégia e engajamento — saber traduzir a linguagem do fã em experiências reais. “Quando você é fã, o cuidado ao produzir um evento é muito maior”, explica. “Você entende o que aquela plateia quer viver. É diferente de quem está ali só pelo business. Eu decidi unir minha paixão com profissionalismo — e isso fez toda a diferença”. Mabel conta que um de seus maiores desejos é mostrar para os jovens que é possível transformar essa paixão em profissão.
“Ser fã não é algo banal e pode sim se transformar em algo de valor
para a banda e para o público”, afirma.
O mercado vem reconhecendo o valor dessas pessoas. Segundo a Vinyl Me Please, os chamados “superfãs” representam mais de 80% do engajamento com conteúdo musical online, tornando-se prioridade nas estratégias da indústria. O Spotify, por exemplo, lançou em 2024 um plano dedicado a esse público, com acesso antecipado a músicas, produtos e experiências exclusivas.
Mabel agora quer contribuir para que bandas brasileiras conquistem mais espaço e fãs no mercado internacional. “Quero usar minha experiência e meus contatos para trazer mais artistas brasileiros para Los Angeles e ampliar a presença da nossa música. É um mercado competitivo, mas existe espaço para quem sabe unir conteúdo, produção e coração.”
Enquanto isso, a paixão de fã segue intacta. Mabel ainda acompanha o My Chemical Romance de perto. Foi ao show histórico da banda em Los Angeles em 2019, esteve nas apresentações mais recentes em Las Vegas e já garantiu ingresso para revê-los em breve em Los Angeles e em São Paulo, no Allianz Parque, em fevereiro de 2026.
“Eles foram minha primeira banda, meu primeiro show. Estar ali na plateia me lembra por que eu faço tudo isso. E, quem sabe um dia, ainda produza um show deles.”
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