quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Literatura Atual

Cidade maravilhosa: Viaje pelo mundo das palavras por meio das crônicas de 'PorVentura', novo livro da 106 editora
Você sabia que conhecer lugares também pode ser por meio de palavras? O Rio de Janeiro não é uma cidade qualquer, quem conhece a cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, sabe como é: tão linda quanto ardilosa, ela guarda sutilezas que só os escritores com maior sensibilidade conseguem captar, um deles é o jornalista Mauro Ventura, autor de PorVentura livro que lançou o selo 106 Crônicas, da Editora 106.


 Em sua mais nova obra, Mauro narra situações e figuras peculiarmente inusitadas ao longo de seus vinte anos de crônicas divertidas, sensíveis e comoventes. Além disso, o escritor reúne crônicas inéditas e seus clássicos já publicados no decorrer de sua carreira, PorVentura convida o leitor a fazer um passeio com destinos tão triviais quanto surpreendentes, passando pelas diversas contradições de uma cidade como o Rio de Janeiro. Agora, viaje pelas palavras e confira um trecho da crônica A África do Brasil:
Logo na chegada à favela, após descer da van, minha filha de 6 anos tapa os olhos para se proteger do sol forte. Uma senhora se aproxima e diz, bem-humorada:
— Você está chorando porque nunca viu tanta gente feia?
A moradora, dona América, está reunida ali para participar da festa de Natal na favela de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, planejada pela Organização Não Governamental Corrente Pelo Bem, que luta para minimizar as enormes carências locais. Levei Alice, minha sogra e sua amiga espanhola para conhecer o trabalho da instituição e o lugar onde funcionou até 2012 o maior lixão da América Latina. O lixão foi fechado, mas a sujeira está por toda parte. Uma jovem pergunta se entre os presentes não tem carrinho de bebê, tantas são as crianças que vivem ali. Uma voluntária comenta com outra que ficou com vontade de responder:
— Não, mas vamos trazer pílula anticoncepcional.
A amiga completa:
— Mas não adianta nada a pílula sem trazer junto a educação. É difícil organizar a multidão em três filas para o recebimento de mantimentos, roupas e brinquedos. Natural. Os moradores, que não têm nada e vivem em condições miseráveis, estão naquele momento diante de uma quantidade enorme de donativos. Um menininho diz a uma voluntária:
— Tia, vocês não vão mais querer voltar aqui, né?
— Por quê? — Porque o pessoal está zoando tudo — responde ele, como que querendo pedir desculpas pela ansiedade dos colegas.
Mesmo com os percalços, as doações são entregues, deixando todos, moradores e voluntários, felizes. Ou quase todos. Um garoto diz:
— Tia, não quero carrinho, não, quero arma.
Naquela manhã, vieram muitas vans cheias de voluntários que, ao longo do dia, distribuíram alimentos, fraldas, sapatos, bonecas e bolas, entre muitas outras contribuições. O ponto de encontro de saída dos veículos foi a Praça Santos Dumont, na Gávea, na Zona Sul do Rio. São apenas pouco mais de 30 quilômetros de distância dali, mas é como se penetrássemos em outro continente, como observou a jornalista María Martín, no El País Brasil, apontando que as condições são tão precárias quanto num pobre povoado africano.
A ONG Corrente Pelo Bem foi criada por Rodrigo Freire, um advogado generoso e altruísta que troca os fins de semana na praia por idas a favelas, asilos, orfanatos e creches. Escolhe sempre os cantos mais desafortunados da cidade[...]” (p. 77 e 78)
Mauro Ventura vai, assim, revelando suas observações e inquietações, de um encontro a outro encanto, ao passo que trafega pela vida, fornecedora da matéria-prima indispensável a toda boa crônica.
Sinopse: Não é pouca a responsabilidade do cronista moderno — resgatar a tradição e preservar o legado de antecessores como João do Rio, Rachel de Queiroz, Rubem Braga e muitos outros —, mas Mauro Ventura a leva a efeito com mestria. Nos textos reunidos neste livro, entre inéditos e outros de grande repercussão publicados ao longo de duas décadas em veículos como Jornal do Brasil, O Globo e, mais recentemente, a internet, autor convida leitor a trafegar por um Rio de Janeiro tão lindo quanto ardiloso, com suas ruas, feiras, delegacias, calçadas e, principalmente, pessoas; por alas estreitas de comunidades esquecidas pelo poder institucional, onde pessoas (in)comuns realizam projetos sociais extraordinários; pelos cômodos do lar, onde a convivência com a família e os amigos proporciona experiências inusitadas; enfim, pela vida, fornecedora da matéria-prima indispensável a toda boa crônica.
Ficha técnica: PorVentura: Encontros, Encantos e outras inquietações
Editora: 106 Editora -  Crônicas
Autor: Mauro Ventura
Gênero: Contos e Crônicas
Preço:
 R$ 39,90
ISBN: 9786580905072
Formato: 14 x 21
Edição: 1ª edição, 2019
Idioma: Português
Número de páginas: 240
Sobre o autor: Mauro Ventura começou a carreira como jornalista em 1985. Trabalhou como repórter, repórter especial, editor e colunista em veículos como IstoÉ, Jornal do Brasil e O Globo, onde assinou, de 2007 a 2018, a coluna Dois cafés e a conta. Com a reportagem Tribunal do tráfico, venceu os prêmios Esso e Embratel, duas das principais distinções do jornalismo brasileiro. É autor do livro O espetáculo mais triste da terra — O incêndio do Gran Circo Norte-Americano, um dos vencedores do prêmio Jabuti, o mais tradicional do país. Escreveu os contos “A dor oficial”, publicado no livro Brasil-Haiti ―101 histórias, e “AVC”, que integrou a coletânea 25 cronistas falam de superação. Como professor, deu aulas e oficinas de crônica e de jornalismo literário. Na TV, fez o roteiro do programa De conversa em conversa, apresentado por Fernanda Montenegro, Carlos Heitor Cony e Artur Xexéo. Ocupou a Direção-Geral de Comunicação e de Difusão do Conhecimento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. É diretor de Impacto Social do Grupo Dadivar e diretor de Conteúdo do movimento Contém Amor.

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