sábado, 14 de dezembro de 2019

Dramaturgia com causa norteia primeiro dia de atividades da Casa do Autor Roteirista
Visita à APAC (Associação de Proteção e Assistências aos Condenados) e bate papo com os roteiristas Marcos Nisti e Marcos Takeda são destaques da sexta-feira em Tiradentes

Thiago Souza ("Os Marcheiros") e Edu Krieger ("Zorra", da TV Globo), sobre humor antifascista, na Casa do Autor Roteirista | foto: Bruno Pires

Visita à APAC e bate papo com representantes, durante a Casa do Autor Roteirista | foto: Bruno Pires
Um dos principais focos da 4ª edição da Casa Autor Roteirista é entender de que forma o audiovisual pode contribuir com narrativa e provocações que retratam a realidade sociocultural e ambiental brasileira. Com esse olhar, o evento iniciou as atividades nesta sexta-feira, 13, com uma visita à APAC – projeto alternativo ao sistema comum penitenciário do país. Profissionais e interessados no mercado audiovisual que ali estavam presentes puderam aprofundar o conhecimento e discutir possibilidades de um roteiro com causa. “Trazemos aqui roteiristas, produtores e representantes de canais de TV, para que eles possam viabilizar esses projetos”, explicou o curador e idealizador Newton Cannito durante a oficina.



Para aprofundar sobre o tema, o diretor da APAC, Antônio Fuzatto, explicou o projeto na companhia de recuperandos, que trouxeram suas histórias e visões em torno da questão. “Aqui não se sabe quem é preso e quem não é, isso não importa”, afirmou Fuzatto “trabalhamos com os condenados durante o cumprimento da pena, para que eles não precisem voltar mais. Só quem vem aqui e escuta as histórias sabe o drama dessa realidade”, continuou ele. Neste contexto, a jornalista Eliane Trindade apresentou a ideia da sua série em desenvolvimento, baseada na história das associações e dos carcerários que ali estão.
“Na nossa realidade de chacinas, violência e armas, temos uma boa notícia para contar: existe, no Brasil, uma tecnologia que funciona, uma prisão sem armas, sem guardas”, pontuou Eliane. “Primeiro, eu fiz a apuração como jornalista, então percebi como aqui tem um grande potencial dramatúrgico. Agora, como roteirista, penso em como traduzir isso para a sociedade”, contou a jornalista.
No período da tarde, os roteiristas Marcos Nisti (‘Aruanas’) e Marcos Takeda (‘Unidade Básica’) participaram do seminário “Como criar séries a partir de causas”. Com uma exibição de um compilado de ‘Aruanas’, uma coprodução Maria Farinha Filmes e Globo, original do Globoplay, os espectadores puderam assistir aos principais momentos da série, que levanta a discussão sobre o trabalho de ONGs ambientais. Estreante na ficção, Nisti destacou a importância de trazer temáticas combativas. “A Maria Farinha Filmes tem a tradição dos documentários com propósitos sociais, mas precisávamos levar isso para esse formato ficcional que conversa e comunica a causa a um público muito maior”, disse ele.
“Já vimos séries sobre advogados, detetives, policiais, por que não trazer essa realidade de dentro das ONGs e dos ativistas ambientais? As pessoas precisam saber e ter acesso a essas realidades”, comentou também Nisti. “Unidade Básica”, do canal Universal Channel, é uma produção da Gullane Enttretenimento inspirada em histórias de profissionais da medicina preventiva que buscam melhorar o sistema de saúde pública. “A série é para valorizar a base da pirâmide de saúde, para ajudar a diminuir problemas futuros da sociedade”, afirmou Takeda. “A partir da conversa com os profissionais de saúde é que se fez possível escrever e produzir o projeto”, complementou ele.
Para encerrar a noite da sexta-feira, o evento promoveu um bate papo sobre humor antifascista seguido de um sarau do mesmo tema. Thiago Souza, um dos compositores do grupo “Os Marcheiros”, que ficaram conhecidos pela cobertura jornalística nacional com charges musicais afirmou: “É necessário trazer soluções lúdicas para os problemas e questões que vemos todos os dias nos noticiários e, assim, lutar contra pensamentos e ideologias fascistas”. Edu Krieger, roteirista do semanal “Zorra” da TV Globo ressaltou, ainda, a diferença entre o humor sensacionalista e as fakenews: “É muito diferente um do outro. Um tem a intenção de criar e disseminar algo que é falso. Isso é grave. O outro quer fazer graça com o que é verdadeiro”, disse.
No sábado, 14, acontece o seminário “Criação em diálogo com o público”, seguida de rodada de negócio, homenagem ao cinema de Pedro Rovai e feira de ideias com pitching de projetos.

Programação – De 12 a 15 de Dezembro

Quinta, 12 de dezembro de 2019
19h
Abertura: Seminário Histórias para Unir o Brasil

Sexta, 13 de dezembro de 2019
10h00
Oficina de co-criação: Ressocialização de presos
  • Visita a Apac (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados)
  • Apresentação do projeto de seriado
14h00 – 17h00
Seminário II: Como criar séries a partir de causas
19h00
Sarau no bar Plano B: Performances de Humor Antifascista

Sábado, 14 de dezembro de 2019
10h00 – 13h00
Seminário III: Criação de diálogo com o público
10h00 – 17h00
Rodadas de Negócios
14h00 
Homenagem a Pedro Rovai
14h30 - 18h00
Pitching de ProjetosHeróis Nacionais

Serviço Casa do Autor Roteirista
Endereço: Instituto Vertentes Vale – Tiradentes (MG)
Programação de 5a (12/12) a domingo (15/12)
Horário: De 10h00 às 23h00

NEWTON CANNITO
Newton Cannito é diretor e roteirista, já ganhou os principais prêmios da TV Brasileira e Internacional, como APCA, ABRA e Emmy. Em 2010, foi secretário do audiovisual do Ministério da Cultura. É autor e roteirista de séries pioneiras no Brasil, como ‘Cidade dos Homens’ e ‘9mm’.  Além disso, fez ‘Z4’ (SBT) e ‘Unidade Básica’, série da Universal Channel, que chega a terceira temporada. Foi também supervisor artístico de séries de sucesso como ‘3%’ (atualmente Netflix), ‘Natália’ (Universal) e ‘Vida de Estagiário’ (Warner).  Como diretor, fez ‘Magal e os Formigas’ e lança, em 2020, a série ‘Utopia Brasil’. É doutor em Televisão pela USP, com a tese ‘A televisão na Era Digital’ (Summus), e autor de mais 11 livros, entre eles ‘Manual de Roteiro’ (Conrad).

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