quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Psicopatas na Bienal? Ainda bem!
por André Schuck*
Paraquedas. Bungee jump. Alpinismo. Mergulho com tubarões. A lista de atividades feitas para dar medo e prazer vai muito além dos citados acima. Existe algo, porém, bem mais antigo que também desperta todos os instintos de sobrevivência e leva nosso corpo a ter as mesmas reações.
Histórias de terror.


O coração acelera, as mãos suam, o corpo treme, você se pergunta por que resolveu ver aquele filme ou ler um livro tão assustador. Seja qual for a resposta, como a maioria dos praticantes de esportes radicais, você vai querer mais. Verá outro filme e lerá outro livro para ter a mesma sensação: medo.
A humanidade conta histórias há milhares de anos. Depois das caçadas, relatávamos como havia sido perigoso aproximar-se do animal e matá-lo para trazer comida para a tribo. Muitas vezes, nesses relatos, não éramos os caçadores, éramos a caça, mas tivemos a sorte ou a destreza de escapar com vida.
Em outras palavras, exercitávamos nosso dom de contar histórias. Uma coisa é certa: essas aventuras cheias de suspense e terror ajudaram muito a sobrevivência de nossos antepassados. Então, se algum dia alguém perguntar por que você gosta tanto de histórias horríveis cheias de morte e maldade, simplesmente responda: “estou aprendendo a sobreviver, não me atrapalhe.”
Georges Méliès, em 1896, realizou o curta-metragem intitulado A Mansão do Diabo. A partir dele, o cinema se rendeu ao gênero. Os anos 30 e os anos 50 foram prolíficos nessa arte e, além de pavimentar o caminho cheio de sangue, levou as décadas seguintes a trazer para a sétima arte obras-primas e revelar grandes cineastas. Entre eles, sem qualquer ordem de mérito, Stanley Kubrick, Steven Spielberg, Peter Jackson e Guillermo del Toro. Este último ganhou quatro Oscarspelo filme A Forma da Água de 2018, baseado na produção O Monstro da Lagoa Negra da Universal Studios, de 1954. A premiação revela que o gênero continua a atrair milhões de fãs ao realizar eventos, festivais, premiações e negócios ao redor do mundo. Se você acredita que o público fervoroso dos super-heróis é fanático, experimente discordar de um fã de terror.
Entre os desmerecidamente deixados de lado está Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, que ao apostar no livro de Robert Bloch, Psicose ,de 1959, nos presenteou, no filme homônimo, com a célebre frase: “Todos nós enlouquecemos às vezes”, dita por Norman Bates, um dos primeiros e mais cultuados psicopatas do cinema. Faço a pergunta: quem pode discordar dela? Você? Ah! Duvido!
Na Bienal deste ano do Rio de Janeiro, caso queira aumentar suas chances de sobrevivência, procure por autores de terror e suspense. O meu novo livro O Inferno é Aquiestá disponível no estande da Editora Coerência. Uma mistura de textos, ilustrações e fotografias que irá te fazer embarcar de maneira inédita na mente de um psicopata que sequestra uma garota. Ele acredita que ela é a reencarnação da filha que ele e a esposa perderam, ainda durante a gravidez, em razão de uma noite recheada de drogas, assassinatos e demônios.
Espero que meu livro ajude você a sobreviver. Afinal, quem disse que você não está sendo observado agora por alguém pior que John Doe do filme Seven? Uma coisa garanto: ele vai te abalar mais do que turbulência em avião, queda de elevador ou montanhas-russas.
Quanto a mim, aqui termino de escrever. Já passou da meia-noite e acabo de ouvir minha filha me chamando do quarto. O problema é que ela foi dormir na casa da avó hoje, e sei que o melhor a fazer é responder “já vou” e sair correndo porta afora, para nunca mais voltar.
*André é editor, diretor de cena e diretor de pós-produção publicitário. Tem também no repertório dois longa-metragens como editor, produzidos em Los Angeles. No gênero suspense e terror é autor de livros de publicados no Brasil e em Portugal

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