segunda-feira, 24 de maio de 2021

Política

 

“Cessar-fogo não é suficiente para resolver o problema na Faixa de Gaza”

É o que afirma André Lajst, cientista político e diretor executivo da StandWithUs Brasil. Para ele, o fim das ações de ambos os lados é apenas medida paliativa que não trará paz à região a longo prazo

Em Ashdod, um prédio foi diretamente atingindo por um foguete. Três pessoas ficaram levemente feridas e cinco em choque. (Foto: StandWithUs Brasil/Instagram)


 

Depois de mais de uma semana de conflito, o cessar-fogo entre Hamas e Israel entrou em vigor às 2 horas da manhã desta sexta-feira, horário local (20h, horário de Brasília). Desde então, não houve qualquer lançamento de foguetes contra Israel ou ataques aéreos israelenses na Faixa de Gaza. No entanto, de acordo com o cientista político e diretor executivo da StandWithUs Brasil, André Lajst, “nenhum cessar-fogo vai ajudar de verdade a resolver o problema de Gaza, que está sob o controle de grupos terroristas desde 2007”.


É a quarta vez que há um conflito entre esses grupos e as forças armadas de Israel. Outros ataques aconteceram em 2009, 2012 e 2014. Nessas três últimas ocasiões, a implementação de um cessar-fogo não adiantou, pois "o Hamas e a Jihad Islâmica mais cedo ou mais tarde infringiram o acordo de paz e lançaram foguetes contra os civis israelenses. Isso é chamado de ‘gotejamento’”, aponta Lajst


Nos sete anos que precederam o conflito atual, 1300 foguetes foram lançados contra Israel. Por isso, o especialista acredita que enquanto o Hamas e a Jihad Islâmica continuarem a controlar a região da Faixa de Gaza, Israel será obrigado a responder aos ataques, dando início a novos conflitos.


No confronto atual, Israel destruiu 80 lançadores de foguetes com capacidade múltipla (9 foguetes ao mesmo tempo), e o Hamas e a Jihad chegaram a lançar 140 foguetes em apenas 20 minutos. Essa quantidade tão grande dificulta muito uma possível interceptação israelense, mesmo contando com o Domo de Ferro. No total, foram lançados 4400 foguetes, sendo que o índice de interceptação do Domo é de 92%. A porcentagem melhorou. Em 2014, o número estava em 86%. 


Tendo esse cenário em vista, a preocupação do diretor da StandWithUs Brasil consiste não só na possibilidade de colocar a população civil em risco, mas também no crescimento das ações e da influência desses grupos terroristas. “Tanto o Hamas quanto a Jihad Islâmica são grupos fundamentalistas religiosos que querem instalar um estado totalitário na região. Eles não reconhecem o Estado de Israel, não respeitam acordos internacionais e não têm o mínimo  interesse em implantar uma democracia com os palestinos”, justifica.


A mediação da assinatura do cessar-fogo atual foi feita pelo Egito e é resultado de pressões internacionais e provavelmente questões diplomáticas que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não se aprofundou. No entanto, essa “paz” é extremamente frágil, pois as exigências de cada um dos lados não foram discutidas. Hamas havia exigido a retirada de Israel de zonas de Jerusalém e da Cisjordânia, o fim do bloqueio em Gaza, imunidade dos líderes do Hamas e passagem livre de membros do Hamas para a Cisjordânia por Israel. “Só faltou pedirem um apartamento grátis à beira-mar em Tel Aviv”, ironiza Lajst. Israel obviamente não aceitou as exigências do grupo, bem como o Hamas não aceitou as condições israelenses, que envolviam o desarmamento total de Gaza.


O fato é que essa pausa no conflito não é sustentável a longo prazo. Para o especialista, o mundo está pressionando Israel para aceitar o cessar-fogo, mas isso é apenas “empurrar com a barriga" um problema maior que ninguém quer resolver, que é como livrar Gaza do Hamas, como livrar a vida dos palestinos de radicais que dominam o cotidiano e a política dos habitantes da região”.


Ele ainda acrescenta que é de interesse nacional de Israel que a Faixa de Gaza prospere, assim como a Cisjordânia prosperou por um bom tempo, movimentando a economia da região. “Não faz sentido um país liberal como Israel ter interesse na pobreza de um país vizinho. Quanto mais ricas as regiões vizinhas ao estado israelense, maior será a integração comercial e, por consequência, menores as chances de guerra. Por outro lado, é de interesse do Hamas que a taxa de desemprego de Gaza seja de 40% e que a população continue pobre, para que eles possam usar esse desespero para causar uma comoção mundial e arrecadar milhões em doações para se armar e promover o que chamam de ‘Guerra Santa’ contra Israel. "É fundamental que todas as pessoas a favor dos palestinos saibam que a única forma deles terem uma vida melhor na Faixa de Gaza  é livrá-los do Hamas e da Jihad Islâmica”, conclui.


Saiba mais vendo o vídeo:


 Vídeo: André Lajst explica interesses estratégicos do Hamas e de Israel

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