terça-feira, 30 de março de 2021

 

Estudo descobre ligações genéticas entre transtornos alimentares e mentais

Publicado em fevereiro no International Journal of Eating Disorders, estudo descobre semelhanças genéticas entre os principais transtornos alimentares: bulimia, anorexia e compulsão alimentar

Transtornos alimentares

São Paulo – /2021 - A anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar periódica são os três principais transtornos alimentares. Nos últimos anos, estudos de base genética da anorexia nervosa têm destacado a existência de marcadores genéticos predisponentes, que são compartilhados com outros transtornos psiquiátricos. 


Ao analisar o genoma de dezenas de milhares de britânicos, uma equipe da Universidade de Genebra (UNIGE), os Hospitais da Universidade de Genebra (HUG), o King's College London, o University College London, a University of North Carolina (UNC) e a Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai descobriram semelhanças entre as bases genéticas desses vários transtornos alimentares e os de outros transtornos psiquiátricos. "As semelhanças residem na associação com riscos psiquiátricos: anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica compartilham o risco genético com certos transtornos psiquiátricos, em particular para esquizofrenia e depressão, confirmando assim o forte componente psiquiátrico destas doenças”, afirma o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem. O estudo foi publicado no International Journal of Eating Disorders. Para entender as semelhanças e diferenças entre os padrões genéticos da anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica, a equipe de pesquisa analisou os genomas de mais de 20.000 pessoas.

          De acordo com a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia, a bulimia nervosa e anorexia nervosa geralmente começam acompanhadas de ansiedade e obsessão por manter-se magro, aliada à presença de baixa autoestima e distorções na percepção da imagem corporal, que são seguidas de alterações de hábitos alimentares. “No caso da bulimia nervosa a pessoa tem episódios de compulsões alimentares, seguidas de métodos compensatórios inadequados como vômitos induzidos, uso de laxantes ou diuréticos e prática de exercícios em excesso, para evitar o ganho de peso. Os portadores de anorexia nervosa se caracterizam pela recusa em manter um peso mínimo esperado para a idade e a altura através da restrição do comportamento alimentar, pelo temor excessivo em ganhar peso, e pela distorção da percepção da imagem corporal. As pessoas que têm compulsão alimentar periódica apresentam episódios de compulsão alimentar, porém diferentemente da bulimia, não utilizam métodos purgativos para eliminar os alimentos ingeridos, nem têm grande preocupação com o peso e a forma corporal”, explica a médica nutróloga.

          Os autores puderam acessar uma base de dados que incluía o DNA do voluntário, seus dados básicos de saúde (peso, idade etc.) e respostas a questionários de saúde, incluindo possíveis transtornos psiquiátricos e seu histórico de transtornos alimentares. O estudo mostra que, embora existam grandes semelhanças genéticas entre anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica, também há diferenças notáveis. “A grande diferença diz respeito à genética associada à regulação do peso corporal, que é oposta entre anorexia e bulimia nervosa, por um lado, e transtorno da compulsão alimentar periódica, por outro, sendo este último ligado a um alto risco genético de obesidade, e alto Índice de Massa Corpórea”, explica.

            No entanto, segundo o estudo, o componente metabólico e físico direcionaria o indivíduo tanto para a anorexia nervosa quanto para a bulimia nervosa ou transtorno da compulsão alimentar periódica. "Além disso, este estudo confirma uma relação genética clara entre o transtorno da compulsão alimentar periódica e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), que já foi clinicamente observado, que pode estar ligada a uma maior impulsividade, que é compartilhada por esses transtornos", afirma o geneticista.

            O papel dos padrões genéticos na regulação do peso corporal identificado neste estudo fornece uma melhor compreensão da base genética dos transtornos alimentares e de como eles diferem em sua marcação genética, apesar de suas semelhanças. “Este trabalho pode levar a uma melhor compreensão do desenvolvimento dos transtornos alimentares”, destaca. “Os transtornos alimentares apresentam grandes diferenças clinicas entre eles, porém a abordagem terapêutica busca restaurar o comportamento alimentar adequado, com o objetivo de tirar o indivíduo do desequilíbrio clínico que a gravidade dos sintomas pode gerar. Por serem quadros de extrema complexidade, os transtornos alimentares muitas vezes requerem um tratamento realizado por equipe multiprofissional que compreendem além do médico nutrólogo, psiquiatra ou clínico, psicólogo, nutricionista e educador físico”, finaliza a Dra. Marcella.

FONTES:

*DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

LINK: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/eat.23481

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