sábado, 25 de janeiro de 2020

37ª Oficina de Música de Curitiba

Cresce a presença feminina à frente de orquestras
Maestrinas ganham espaço na atividade e podem se tornar mães enquanto investem na carreira.


Oito dos 20 inscritos para a classe de Regência de Orquestra da 37ª Oficina de Música são mulheres. O número reflete o crescimento gradativo da presença feminina nesse campo da atividade orquestral, não só no Brasil mas no mundo, e a importância do evento cultural de Curitiba como porta de entrada para a profissionalização na área.




Em edições anteriores, a Oficina de Música de Curitiba também recebeu outras alunas que hoje são regentes. Entre elas estão Mariana Menezes, que está atuando no Distrito Federal; Katarine Araújo, em Goiânia; e Alexandra Arrieche, em Antuérpia, na Bélgica.


Núcleo feminino

O grupo deste ano é formado apenas por brasileiras. São elas Karen Zeferino (Maringá/PR), Melissa de Paiva e Larissa Macedo (São Bernardo/SP), Giovanna Elias, Thais Rodrigues e Miriam Constantino (São Paulo), Wassi Carneiro (Araras/SP) e Raphaela Lacerda (Santo André/SP). Elas vieram fazer o curso ministrado pelo maestro Abel Rocha, regente da Orquestra de Santo André e que tem como assistente uma mulher: Natália Larangeira.

“Quando comecei a participar do evento, em 2009, éramos eu e, no máximo, mais duas. Com certeza o mercado era muito mais fechado para as que nos precederam”, compara a regente, referindo-se a nomes consagrados como o da brasileira Ligia Amadio, regente da Orquestra Filarmônica de Montevidéu, capital uruguaia, e a norte-americana Marin Alsop, ex-titular da Sinfônica de São Paulo e atual regente da Orquestra Rádio de Viena.     

As pegadas deixadas pelas mais antigas na área, diz Natália, são simplesmente apagadas da História. “Chiquinha Gonzaga também foi regente. Mas quantas pessoas sabem disso?”, observa, referindo-se à artista que é conhecida como compositora de sucessos dos séculos XIX e XX e que são cantados até hoje.      

Desfazendo mitos

Aos 32, a maestrina atuou como regente convidada da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro, em São Paulo, e em 2019 foi a segunda colocada no II Concurso Internacional da Ópera de Baugè, na França. Domingo, no encerramento da 37ª Oficina de Música de Curitiba, vai reger o Concerto para Trompete, do argentino Gerardo Gardelin, com o professor Daniel Crespo. O espetáculo começa às 20h, no Teatro Guaíra.

Toda essa trajetória, conta Natália, é fruto de muito estudo, disciplina - mesmo sendo mãe de um menino de 5 anos, que a acompanha em seus compromissos profissionais e também veio para a Oficina de Música. Enquanto a mãe trabalha, Lorenzo participa de atividades  da Oficina para crianças no Passeio Público. 

“A maternidade nunca foi um problema para mim. Nunca regi tanto como na época da gravidez. Três dias antes do parto eu estava trabalhando, voltei 40 dias depois e continuo investindo na carreira”, conta ela, contrariando o senso comum que dá por encerrada a carreira das regentes que se tornam mães.

Entraves e alternativas

Outras restrições se impõem à ascensão das mulheres na regência orquestral e que, a rigor, equivalem-se às identificadas para as diversas carreiras. “O simples fato de sermos mulheres, independente de toda a nossa capacidade técnica, já nos coloca em desvantagem. Não podemos cometer erros e temos que matar não um mas dois leões por dia, quebrar pedra mesmo”, resume Larissa Macedo, uma das oito alunas da classe de Regência de Orquestra.   

Lidar com o músico que erra notas de propósito, apenas para testar se a regente está atenta, ou com a instrumentista que não aceita ser regida por alguém do mesmo gênero são exemplos de obstáculos típicos da carreira. Também é corrente o julgamento pela aparência - pelo tipo de roupa com características mais femininas  usadas durante os concertos e pelos gestos mais suaves ao reger - e não pela técnica e a ideia de que o lugar da mulher regente é apenas diante de um coral. 

Para fazer frente às restrições impostas à mulher também nesta área, concordam as estudantes da Oficina de Música, não basta continuar usando técnica, conhecimento e disciplina para continuar abrindo espaço na academia e nas orquestras convencionais. “O caminho, para nós, é empreender e formar novas orquestras. Além de espaço para nós, criamos mercado para os músicos em geral”, sugere Natália. 

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