segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Cidadão Gastronômico / Por Bruno Bertani

 

UM DRINQUE, POR FAVOR

Homens e mulheres se encontram no balcão de bares especializados para explorar o paladar em drinques clássicos e inusitados.

Uísque para os homens e espumante doce para as mulheres? Nada disso. Nos últimos anos, restaurantes descolados, casas noturnas e bares especializados em drinques acompanharam a evolução do comportamento de seus clientes e chegaram a conclusão de que o paladar apurado não tem gênero. Ou seja, estigmatizar o paladar feminino e pensar que toda mulher prefere um coquetel doce pode ser um grande equívoco. Da mesma forma, imaginar que os homens não gostam de drinques revela falta de atenção do profissional com as tendências mundiais.

O mixologista Igor Bispo, sócio do Tiger, reforça que paladar não tem sexo, raça ou idade. “Nossa sociedade é muito machista. Essa é uma questão cultural, mas, afirmo que paladar é algo muito pessoal”. Segundo ele, alguns conceitos pré-concebidos pelos homens podem até afastá-los de uma degustação de um drinque sem compromisso. “Isso só acontece no Brasil. Em qualquer outro lugar do mundo, o público, inclusive os homens, pensam em coquetéis pesados em termos de álcool, como o Manhattan Dry Martini, por exemplo”, conta.

O empresário Marcelo Silvério, proprietário do gastrobar Le Voleur de Vélo, também acompanha a ascensão da coquetelaria no Brasil. “São Paulo e Rio de Janeiro ainda lideram nosso mercado em termos de número de endereços especializados para degustar um bom drinque e, consequentemente, na disseminação da informação”, destaca. “Em Curitiba, nossos drinques também são tão bons quanto os melhores do mundo. E, cada vez mais as pessoas têm a oportunidade de degustar, consequentemente se tornam mais fãs do leque de possibilidades oferecidos pelos drinques”, completa.

Segundo Marcelo, apesar de não criar drinques para homens ou mulheres, não se pode negar que blends com uísque e tequila, ainda são mais consumidos pelo público masculino e, vodcas e espumantes chamam mais a atenção do público feminino. “Aposto no gin tônica como o próximo sucesso, depois do Spritz. Pouca gente sabe, mas existem bares dedicados ao gin tônica mundo afora. Para disseminar essa cultura no Le Voleur de Vélo, trabalhamos com Hendricks, uma marca londrina que ancora nossa ação mais inusitada, o Gin das Sete, que vem ganhando, a cada semana, mais adesão do público. Trata-se de um drinque de inverno, servido quente, que contempla esse gin, em especial, com adição de chá da grife Moncloa. Os clientes curtem esse momento no melhor estilo happy hour, ao som de um DJ.

A democratização dos drinques

Igor Bispo acredita que mixologistas e bartenders sérios possuem abertura para desmistificar esse impasse cultural junto aos clientes e resgatar valores antigos. “Há cerca de dois anos temos nos dedicado a reproduzir os clássicos com fidelidade e, com a aplicação da mixologia molecular, temos condições de obter os mesmos resultados com técnicas diferentes”, enaltece.

E nessa tendência da fabricação dos próprios ingredientes, como xaropes, tinturas, licores e vermutes para usar no próprio bar, muitos clientes acabam se permitindo a provar algo diferente. “As pessoas são movidas por curiosidade e por qualidade. Esse mesmo processo aconteceu com a gastronomia. O público sente o prestígio de provar uma bebida customizada, preparada artesanalmente”, revela.

Para Igor, a entrega do cardápio no balcão do Tiger acontece por mera pró-forma. “No balcão o cliente acredita ter mais liberdade de manifestar suas preferências e está mais aberto para receber uma sugestão do especialista”, esclarece.

De acordo com o mixologista, os drinques levemente amargos, que levam bourbon ou uísque, acabam caindo no gosto das pessoas. Além disso, drinques clássicos como um Sbagliato – combinação de Campari, vermute rosso e espumante brut – demonstram com propriedade que drinques mais delicados também podem ser repletos de sabor e personalidade. “O que não significa que tenham sido idealizados para mulheres”, aponta.

Já o Fianchetto, uma das criações de Igor, que reúne vodka francesa, xarope de hibisco, creme de balsâmico e angostura, faz sucesso entre homens e mulheres. “Para quem tem uma cultura maior sobre bebidas e reconhece o gin como uma opção diferenciada, eu ofereço Hendricks, uma marca londrina que criou um drinque unusual, servido com fatias de pepino. Sem dúvida é um drinque instigante para pessoas com o paladar apurado”, conclui.


Cidadão Gastronômico:  contato@cidadaogastronomico.com.br

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