sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Agenda Rio .

Minha Fortaleza, os Filhos de Fulano (My Fortress), de Tatiana Lohmann, tem sua estreia na Première Brasil, no Festival do Rio 2019.
O documentário da Tatiana Lohmann, terá sua primeira exibição no próximo dia 11/12, às 19h no Estação Net Gávea  dentro da  Mostra Competitiva/Documentário do Festival do Rio 2019.


Diretora, Tatiana Lohmann, diretor de fotografia Humberto Bassanelli e a produtora Rachel Monteiro estarão na sessão de estreia. O filme rodado em São Paulo, retrata 3 famílias afetadas pela falta de pai na Vila Flávia, periferia de SP, onde a mãe solitária adquire aura de santa guerreira, cultuada nos corpos tatuados e nos muros grafitados.

Sinopse
Vila Flávia, periferia de São Paulo. Os muros grafitados imprimem um ícone soberano: a mãe negra protegendo os filhos. Três famílias marcadas pela ausência de pai: Nêgo leva tatuado no peito o retrato de D Edith. Fernando tatuou uma Virgem Maria nas costas em homenagem à mãe, D. Vera. Barão cumpre pena há 8 anos e amarga a dor de fazer sofrer D. Fatima. Em lares sem pai, na quebrada esquecida pelo estado, a mãe solitária adquire aura de santa guerreira.


84min/SP/Brasil – Minha Fortaleza, os Filhos de Fulano



Tatiana Lohmann
Nosso objetivo com esse filme sempre foi falar a língua das periferias que ele aborda. Que os personagens se sintam representados e as questões relacionadas à ausência de pai e consequente idealização da mãe possam provocar identidade e reflexão - em primeiro lugar na comunidade onde foi filmado. Mas hoje, com tudo o que se tem dito e pensado a respeito de lugar de fala, me pergunto se não havia nessa formulação algo que era um tanto ingênuo ou mesmo descabido. A linguagem da periferia não é a minha, criada como menina de classe média em escolar particular. No entanto, temos um ponto fundamental em comum: também fui criada sem pai. Também vivi essa “saturação” da imagem da minha mãe, tornada referência única de afeto, moral e sustento, numa família não apenas sem pai, mas sem muita estrutura financeira ou psicólogica pra lidar com isso.

A falta de pai dentro de casa é condição comum a todas as classes sociais no Brasil, formado desde a origem por relações violentas entre homens e mulheres, entre europeus e indígenas, entre senhores e negras escravizadas, gerando filhos ditos bastardos. Soma-se a isto um dos conceitos caros à dinâmica patriarcal - o de que os filhos são responsabilidade principalmente da mãe -  e o que encontramos como resultado são casas onde as mulheres cuidam dos filhos, sacrificando o que for preciso. O número de familias chefiadas por mulheres vem crescendo exponencialmente no Brasil. Nas periferias dos grandes centros urbanos, estes números são muito maiores, seja porque os homens rejeitam a paternidade, seja porque estão presos ou mortos.

É sobre um quadrilátero de quarteirões, a Vila Flávia, umas destas inúmeras periferias pobres e violentas, solidárias e criativas, que o filme se debruça, observando em três familias as relações entre mãe e filho criado sem pai – num momento em que estes filhos já são pais também e procuram não repetir os mesmos erros. Mas a força do condicionamento cultural é grande, assim como o apelo do crime que priva um dos personagens do convívio com a família por 8 longos anos.

Eles louvam suas mães, que definem como guerreiras, como heroínas, como santas. Eis o campo mais delicado que este filme tentou observar, uma idealização da mãe que provavelmente dificultou que elas casassem de novo – o que nenhuma das três conseguiu, mesmo querendo – pois seus filhos assumiram com brio o papel de homens da casa. Sozinhas, elas se mostram como talvez poucos as tenham visto neste universo que procura louvar a mulher sem perceber que a mantem presa num pedestal que elas não desejaram e que muito se assemelha à figura da mater dolorosa


FICHA TÉCNICA

Direção - Tatiana Lohmann
Roteiro - Tatiana Lohmann, Claudia Schapira
Direção de Fotografia - Humberto Bassanelli
Câmera - Humberto Bassanelli e Tatiana Lohmann
Câmera Adicional - Breno Turnes
Montagem - Tatiana Lohmann, Idê Lacreta
Consultoria de Montagem - Marco Del Fiol
Produção Executiva - Marina Puech Leão e Tatiana Lohmann
Produtora Associada - Rachel Monteiro
Produção - Marisa Reis, Juliana Osmondes e Leandro Feigenblatt
Assistência de Produção - Andreia Pujol, Fernando Sebastião Macario,
Fernando Rodrigo de Carvalho (Negotinho)
Assistência de Câmera e Still - Alessio Ortu
Assistência Geral - Je Pichelli, Adriano Yzola, Udney Matheus
Som Direto - Bruno Lohmann Soares
Som Direto Adicional - Tomaz Klotzel
Arte Gráfica - Toddy/OPNI, Tide Gugliano, Murilo Taveira e Sato do Brasil
Edição e Mixagem de Som - Pedro Noizymen
Trilha Sonora - Roberta Estrela D’Alva e Tatiana Lohmann
com músicas de Emicida, Fernando Macario, Rima Fatal Da Leste, Odisséia das Flores, Felipe Boladão, MC Neguinho do Kaxeta, De Menos Crime, Inquérito.
Produção de Finalização - Beto Bassi
Pós Produção - Zumbi Post
Tradução - Julia Barros
Realização - Exótica Cinematográfica
Co Produção - Miração Filmes

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