’Um livro sincero acima de tudo. Escrevi chorando, revisei chorando e li as provas chorando.”
Assim a jornalista Laís de Castro fala sobre Vida a Duas – o livro do nosso amor, obra que escreveu para homenagear a companheira Ester, cuja morte completa um ano no dia do lançamento, no próximo 25 de março.
Laís e Ester viveram juntas 28 anos – uma relação repleta de cumplicidade, companheirismo, respeito, liberdade e, basicamente, muito amor.
No processo de luto, Laís conta que começou a escrever sobre Ester numa tentativa de colocar para fora a dor imensa provocada por sua perda. O livro nasceu desse apanhado de “falas”, dos sentimentos expostos em meio à tristeza.
“Acho que me fez bem contar o que sentia. Penso que isso de certa forma me impediu de ficar doente. Sigo triste, não sinto mais prazer nas coisas, tenho culpa quando vou tomar um vinho, por exemplo, e não tenho a Ester por perto tomando seu uísque. Mas não estou deprimida, para dentro. Enxerguei nesse relato também que havia chegado a hora de escancarar definitivamente, para todos, minha escolha afetiva”, explica a autora.
Em várias passagens, Laís deixa claro que o convívio diário só fortaleceu o amor entre ambas. Não havia espaço para o ciúme, a monotonia, o tédio.
A história ganha fôlego conforme o tempo avança. Foram muitos sonhos realizados juntas, entre esses as viagens que se somam a outros projetos, como o refúgio que construíram em Franca, onde Ester morreu subitamente.
Os muitos amigos da dupla, sempre tão bem acolhidos por elas, foram testemunhas desse encontro feliz.
Laís faz do livro também um agradecimento a todos que estiveram junto dela no pior momento de sua vida, e pede que continuem próximos, dando amparo e carinho. Por isso mesmo, decidiu que o aniversário de um ano da morte de Ester seria marcado pelo lançamento do livro. O tributo acontecerá na presença dos amigos “e quem mais se interessar pela obra”, em um restaurante no Itaim, na capital paulista.
Da relação, além do amor profundo e das lembranças impagáveis, ficaram os animais adotados pelo casal: os cachorros Cosme e Damião, agora vivendo num canil, e a gata Catraca, companheira dos dias de luto de Laís.
“Como não sou religiosa nem Ester era, o livro é minha maneira de manter viva entre os amigos a presença do meu amor. Também aproveito a publicação para deixar clara minha gratidão à família e aos amigos que me ajudam a tocar a vida nesses dias de luto, de tanta dor.”
Ficha técnica
Vida a duas – o livro do nosso amor (Ed. RV)
Autora: Laís de Castro
Formato: 14 × 21 cm
Páginas 154
Acabamento: brochura, lombada quadrada
Edição: 1ª, 2019
Preço: R$ 19
Lançamento: dia 25 de março (segunda-feira), na Tratoria Melão (Rua Paes de Araújo, 184, Itaim Bibi, São Paulo, SP), das 19 às 22 horas.
Sobre Laís de Castro:
“Nasci num 17 de junho há mais de sete décadas. Fui jornalista profissional por quase 40 anos e trabalhei deliciosamente de foca a diretora de redação. Foram 18 anos na Editora Abril, vários anos na Carta Editorial, na Editora Símbolo e outros mais na Editora Azul. Em 18 anos de Editora Abril, ganhei três Prêmio Abril. Entre outras publicações, atuei nas revistas Realidade, InTErValo, Barbara, Boa Forma (falecidas), Saúde, Corpo a Corpo e Claudia. Atingi os 70 lúcida, com todos os sentidos (menos o olfato, confesso) funcionando regularmente, com o bom humor que, modéstia à parte, sempre me acompanhou. Quando me chamam de idosa, digo que apenas cheguei antes na festa.
Como escritora, atividade a qual me dedico já há algum tempo, recebi o Prêmio Literário Cidade de Porto Seguro, com Presidiária, em 2010. Vida a duas é meu sexto livro. Meus outros livros são: Um Velho Almirante e outros contos (ARX, 2006), Presidiária (Via Literária, 2010), Hormônios (Editora Baleeiro, 2012, São Paulo), Sirva o Coração em Bandeja de Cristal Líquido(Iluminuras, 2014, São Paulo), Passarada em Liberdade(Conhecimento, 2013)."
Saiba mais sobre a autora em www.laisdecastro.com.br
Trecho:
À noite ela voltou do sono e me chamou.
Eu ainda estava meio acordada quando ouvi:
— Você já dormiu ou posso falar uma coisa?
— Claro, pode falar Ester, estou escutando
— Você foi e é a melhor companheira que tive
e tenho em toda a minha vida.
Eu, burra, considerei natural e agradeci:
— A recíproca é verdadeira, meu amor. Você é a melhor
pessoa que eu tive e tenho ao meu lado desde sempre.
Dei um abraço forte nela, fiz um cafuné e voltei a me
preparar para dormir. Ela sorriu, sonolenta. Deu um
beijo no meu rosto, virou para o outro lado e adormeceu.
Não passaram cinco minutos quando ela me
cutucou de novo. Quero falar mais uma coisa:
— Agora vamos viver nossos sonhos.
E eu, brincando como sempre:
-- Nosso primeiro sonho pode ser em Palermo,
em Buenos Aires num hotelzinho-butique?
Sonolenta, ela sussurrou:
— Claro, como você adivinhou?
Eu não tinha adivinhado, ela já manifestara essa
vontade. Apenas sorri, calei e guardei naquela boca
que eu idolatrava, meu último beijo...
Foi o beijo mais terno e meigo que depositei na
vida, sem desconfiar que me despedia.
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